JORGE FRAGOSO, POETA, EDITOR Y TRADUCTOR PORTUGUÉS. SOBRE LOS LIBROS DE ÁLVARO ÁLVES DE FARÍA Y MONTSERRAT VILLAR QUE SE PRESENTARÁN EN EL XVII ENCUENTRO DE POETAS IBEROAMERICANOS

 
Crear en Salamanca publica dos reflexiones del amigo Jorge Fragoso, editor en Coimbra, buen poeta portugués nacido en Mozambique. La primera, como editor de varios libros de Alves de Faria, entre ellos el último (“67 sonetos para uma Rainha”); la segunda, como traductor (y también editor) del libro “Terra Habitada”, de Montserrat Villar González; ambos libros aparecidos bajo el sello de Palimage. Ambos libros serán presentados en la Facultad de Filología de la Usal, tanto por Fragoso como por el profesor Pedro Serra, de Filología portuguesa, el 14 de este mes (19,00 h. – Aula A12 de Anayita). Como un ejercicio de aprendizaje del idioma hermano, publicamos los dos textos en portugués.

1 Jorge Fragoso en Salmanca (2013, foto de Jacqueline Alencar)Jorge Fragoso en Salmanca (2013, foto de Jacqueline Alencar)

Ler e editar Álvaro Alves de Faria

Para mim, como editor de Álvaro Alves de Faria, a sua poesia sempre foi, e é, muito clara. Nos múltiplos sentidos da palavra “clara”. Poesia clara no sentido de acessível, legível, compreensível. Clara, também, no sentido de luminosa, muito bela, irradiante. Mesmo se o motivo é triste, ou angustiante, as palavras de Álvaro Alves de Faria parecem revestir-se de um modo único de nos penetrarem a alma e nos levarem ao encantamento.

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Se, antes do “caminho português” do poeta Álvaro Alves de Faria, a sua poesia tinha, profunda, uma componente de intervenção política, social, contra a Ditadura que oprime, quando começa a publicar em Portugal encontram-se nas suas palavras extensos diálogos com poetas portugueses, de Camões a Pessoa. Um reencontro das origens de Faria com os seus ascendentes portugueses, e toda uma mundividência poética que parecia latente, adormecida na sua alma, para acordar para uma vida outra, completamente mudada, quer na sua poesia, quer no seu próprio quotidiano. Um facto marcante, que refaz a bússola poética de Álvaro Alves de Faria, foi a sua presença no Encontros Internacionais de Poetas de Coimbra, em 1992, , a convite de Graça Capinha, organizadora dos Encontros, sua prefaciadora em várias obras e também sua crítica literária.

Uma vida – a do poeta – completamente alterada que continua a produzir os seus melhores frutos: como estes 67 Sonetos para uma Rainha que, para além de um retorno ao clássico puro da estrutura do soneto, constitui ainda, diante dos seu pares brasileiros, uma verdadeira provocação.

 

3 Álvaro Alves de Faria en el Fonseca (2013, foto de Jacqueline Alencar) Álvaro Alves de Faria en el Fonseca (2013, foto de Jacqueline Alencar)

 

Mas, em diálogo franco e descontraído, no Café Santa Cruz, em Coimbra, onde sempre se encontram os amigos de Álvaro, referiu o poeta Xavier Zarco: aqui, em Portugal, a outra terra poética e de sangue e alma do poeta brasileiro, estes sonetos deixam de ser uma provocação para passarem a ser “por vocação”…

 

E, como escreve Carlos Nejar, da Academia Brasileira de Letras: “A diferença entre um poeta e um homem comum é a de que aquele leva a alma nas costas e esse leva as costas na alma. Álvaro Alves de Faria é da primeira estirpe. Marcado pela semente ibérica, que vem de seus pais portugueses, não deixa que o fruto saia longe do pé. Simples, com imagens fortes de amor e solidão, sabe ser melodioso e às vezes tem a dureza da pedra, aquela que se plantou por dentro, através dos ancestrais. Fonético no verso, solidário no sangue, raiz que não morre, desenha este tempo sem tréguas, com olhar sincero de menino. E como se tocadas de música, as imagens, andarilhas como ele, o seguem. Ser poeta é sua maneira de estar no mundo”.

 

 

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A experiência de tradutor de Montserrat Villar González

O trabalho de tradução deste livro (38 poemas) — Tierra con Nossotros, que se verteu para português como Terra Habitada, resultou da retribuição amiga perante um gesto de simpatia de Montserrat Villar González que foi a oferta que me fez dos seus mais recentes livros, num interessante encontro de Salamanca, em 2013. Logo no início, os poemas deste livro produziram em mim um efeito quase estranho. Uma espécie de proximidade, de identificação com as palavras, aquele sentir que nos provoca o pensamento: “Quem me dera ter sido eu a escrever isto…”.

Não tenho, confesso, formação académica na área da língua castelhana. Mas a mesma proximidade com o idioma, e com o escrever aberto de Montserrat, levou-me a entender, de um modo interior, as suas palavras. Depois, como um impulso, traduzi, como pude, um primeiro poema deste livro premiado, no mesmo ano, no concurso literário SELEER 2013. E enviei a tradução desse único poema a Montserrat. Foi grande a sua emoção, que me contou em lágrimas de alegria. Montserrat Viilar González, enquanto estudante, permaneceu em Coimbra por cerca de um ano, integrada no Programa Erasmus. Apaixonou-se pela cidade, creio que também pela língua, sobretudo pela vivência coimbrã. E revelou, numa visita que fez, no ano passado, à nossa Casa da Escrita de Coimbra, que era um sonho antigo, acalentado de muita esperança, ver um livro seu traduzido em português e publicado em Portugal. Sendo, então, em Coimbra, seria maravilhoso. E eu, (pobre de mim – no que me fui meter) pensei se não poderia ajudar a realizar esse sonho. Aventurava-me na tradução e, como editor, não seria difícil publicar o livro.

 

5 Montserrat VillarMontserrat Villar

 
Foi uma tarefa demorada, difícil, mas que dava muito prazer a cada poema traduzido, a cada texto concluído. Para além de tradução, concluímos que seria uma versão portuguesa do livro de Montserrat. E eu disse concluímos porque, aqui, surge a âncora que me salvou, a enorme ajuda que constitui o facto de ter a possibilidade de debater com a própria poeta, que fala português, que é professora de literatura portuguesa e que, assim, pôde, de muito perto analisar cada palavra, cada verso, cada ideia que fomos debatendo ao longo de meses, por e-mail, por videoconferência, em dois ou três encontros presenciais.

E fui descobrindo o maravilhoso, duro, terno, profundamente comprometido que é este livro – Terra Habitada. Uma poesia de intervenção social, ecológica, na guerra… um poesia de intervenção que nos toca, às vezes choca, e é um despertar fundo das consciências. Há poemas que nos provocam a raiva, há poemas que nos comovem, sobretudo, todos os poemas nos fazem parar para pensar, reflectir profundamente, e adoptar, talvez, a mesma posição de engajamento, de comprometimento, de luta contra tantas experiências horríveis, ou irónicas, ou profundamente hipócritas com que nos deparamos cada dia, e nos chegam dentro dos olhos através do que nos cerca: basta estar atento, ou ser como Montserrat Villar González que se deixa tocar por uma realidade agreste, e tenta, pela palavra poética, encontrar uma, alguma, qualquer solução…

Foi preciso traduzir este livro para compreender o seu âmago e entrever, talvez, um pouco do pensamento da poeta e a sua posição perante a vida, o seu modo único de “mudar o olhar do mundo”. O que será, provavelmente, a razão maior da escrita poética, o “para que serve”, afinal, a poesia.

6 Carlos Aganzo y Jorge Fragoso, en la calle Prior (2007, foto de Jacqueline Alencar)Carlos Aganzo y Jorge Fragoso, en la calle Prior (2007, foto de Jacqueline Alencar)

 

 

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