POEMAS DE LA PORTUGUESA JOANA LAPA

 

 

 Joana Lapa (Maria João Fernandes) Fotografia Henrique Calvet

 

Crear en Salamanca se complace en publicar dos poemas de Joana Lapa (pseudónimo de Maria João Fernandes), uno de ellos traducido al castellano por Emilia de Dios.

Joana Lapa  publicou os seus primeiros poemas em jornais e revistas como Sema, Silex e Nordés dirigida pela poetisa espanhola (Galiza) Luz Pozo Garza, em 1993 o álbum de fotografias, juntando a poesia e a crítica de arte: Cristóvam Dias Os Caminhos do Olhar e em 2003 o livro de poesia em versão bilingue (português/francês) Dias de Seda/ Jours de Soie, com catorze originais de Júlio Resende e prefácios de Robert Bréchon e de Eugénio Lisboa. A obra de António Ramos Rosa é uma referência fundamental da sua poesia, bem como o diálogo com a arte que desenvolve há mais de três décadas. No seu percurso, pensamento racional e intuição, discurso crítico e expressão poética alimentam-se mutuamente e associam-se a aspetos diversos da sua personalidade e da sua criação. Maria João Fernandes como assistente universitária, em Lisboa e em Paris, dedicou-se ao estudo da antropologia do imaginário e do Mito que fundamentam a sua crítica de arte. Formular o informulável era afinal já o seu destino como Joana Lapa, poeta e artista depois de uma fugaz frequência da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

 

 

 

 

 Publicou na Editora Afrontamento dois livros de poesia prefaciados pelo poeta e crítico francês Robert Bréchon: Lettera Amorosa (2014) e Deusa da Transparência (2015) ilustrado com fotografias de Manuel Magalhães. Por publicar, no conjunto de uma vasta obra ainda inédita, está o conjunto dos seus poemas de juventude. Em 2018 Maria João Fernandes publicou na Editora Afrontamento: Em Busca do Amor Perdido O Bilhete Postal e a Poesia entre 1900 e 1920, com poemas de Joana Lapa e prefaciado por Eduardo Lourenço e por Fernando Guimarães. Encontra-se no prelo o livro, que organizou e onde colabora como poeta: A Chama Eterna, O Cântico dos Cânticos na Poesia de Amor e na Cultura de Língua Portuguesa, com prefácio de Agustina-Bessa Luís, em co-autoria com o poeta Gonçalo Salvado.  Também em co-autoria com Gonçalo Salvado publicou em 2018 a Antologia Cem Poemas de Morrer de Amor e uma Cantiga Partindo-se, uma edição da Câmara Municipal de Castelo Branco onde colabora com um ensaio de abertura assinado por Maria João Fernandes e com um poema de Joana Lapa.

Pintura del poeta Khalil Gibran

 

 

 

 

VEM

 

 

Vem nas asas do esquecimento

e no cristal do dia,

sem rumor e sem susto,

enche de estrelas o céu

do meu olhar,

e nele acende

a luz branca e maravilhosa

da tua aparição.

 

Vem e resplandece,

oferece às ondas iluminadas

o corpo do teu esplendor.

 

És cálida aragem

acariciando o vento

e com o teu fogo

a ardente chama desperta o seu fulgor.

 

Vem inesperadamente,

halo que transfigura e permanece,

mais do que um sopro

ou uma centelha iridescente.

 

Jovem criatura do Éden

é tua a doçura

que veste a tarde

de um vislumbre

ou de um renascimento.

 

Oferece-me esse fruto de ouro

que há muito perdi

e me estava prometido

como um sorriso do espaço.

 

Vem e ilumina-me,

desperta-me para a graça da vida

quando as gotas de chuva

resplandecem,

os pássaros fazem o seu ninho nas estrelas

e a música se despede do dia.

 

A que reino pertence essa beleza,

essa dádiva do horizonte ao horizonte?

 

 Humberto Marçal, Voo Nupcial, Gravura e Pintura

 

 

 

Num escrínio sem tempo

o verão prolonga o seu círculo

transparente,

a sua auréola de fogo,

o seu oceano da pura imensidão.

 

Acende o meu coração

como a árvore

que o poente exalta

num só frémito de muitos ramos,

num único esplendor

coroado de estrelas

e do alvor do Paraíso.

 

Vem como um sorriso

que rasgasse a bruma

e nos seus véus de musgo

encantasse o silêncio.

 

Lenta, sumptuosamente,

como as ondas que avançam para a praia,

abre as ilhas e as clareiras da minha alma

recém-nascida contigo.

 

Amável e prodigioso

como um fruto do olvido,

saboroso com a sua polpa de mel

e ternos presságios.

 

Em ti sei que as minhas palavras

caminhariam para a sua nascente

e se abririam a toda a esperança.

 

És um refúgio ou uma guarida

onde ocultas os pássaros da eternidade,

esse segredo que não tem voz

e é toda a  minha cobiça,

essa voz clara dos abismos

dourada como um girassol.

 

É muito pequena a tarde para o teu sol.

 

Deslumbramento

que ainda me não pertence,

promessa do corpo do espaço,

puro limiar como a morte ou a vida.

 

Transparente,

erguida entre as nuvens,

a doçura terrestre,

a água e a verdura,

prestes a nascer como um fruto ou uma flor,

 

espero, sem esperar, a verdade do Amor.

 

Joana Lapa y otras poetas  invitadas al XXII Encuentro de Poetas Iberoamericanos

 

 

VEN

 

Ven, ven a mí, en las alas del olvido

y en el cristal del día,

en silencio y sin espanto,

cuaja de estrellas el cielo

de mi mirada

y enciende en él

la luz pura y fascinante

de tu aparición.

 

Ven, ven y resplandece,

ofrenda a las olas iluminadas

el cuerpo de tu esplendor.

 

Eres cálida brisa

acariciando el viento

y con tu fuego

despierta la llama ardiente de su fulgor.

 

Ven, ven por sorpresa,

halo que transforma y permanece,

más intensa que un hálito

o una centella iridiscente.

 

Joven criatura del Edén

es tuya la lisura

que viste la tarde

de un resplandor

o de un renacimiento.

 

Ven, ofréceme ese fruto dorado

que perdí tanto tiempo ha

y que me estaba prometido

como una sonrisa sideral.

 

Ven, ven e ilumíname,

despiértame a la gracia de la vida

cuando las gotas de lluvia

resplandezcan,

los pájaros hagan sus nidos en las estrellas

y la música se despida de la luz.

 

¿A qué reino pertenece esa belleza,

ese don que vaga

 del inicio al fin del horizonte?

 

En un relicario sin tiempo

el verano engrandece su círculo

transparente,

su aura de fuego,

su océano de pura inmensidad.

 

 

 João Carrega, Gonçalo Salvado y Joana Lapa en la Facultad de Filología de la Usal (foto de Stefania Di Leo)

 

 

 

Ven, provoca mi corazón,

 como el árbol

que el poniente ensalza

en un único estremecimiento de infinitos ramos,

en un solo esplendor

coronado de estrellas

y del clamor del Paraíso.

 

Ven, ven como una sonrisa

que hiere la niebla

y en sus velos de musgo

hechiza al silencio.

 

Despacio, suntuosa, lentamente,

como las olas que besan la playa,

abre las islas y los claros del bosque de mi alma

recién inaugurada contigo.

 

Proclive y prodigioso

como un fruto del pasado,

sabroso con su pulpa de miel

y tiernos presagios.

 

Ven, sé que mis palabras en ti

correrán hacia su origen

para abrirse a la plena esperanza.

 

¡Eres refugio o guarida

dónde se guarecen los pájaros de la eternidad?,

ese secreto sin palabras

es toda mi ambición,

la nítida voz de los abismos

áurea como un maduro girasol.

 

La tarde es demasiado breve para tu sol.

 

Deslumbramiento

que aún me es ajeno,

promesa del cuerpo del universo,

umbral puro como la muerte o la existencia.

 

Transparente,

elevada entre las nubes,

la dulzura terrestre,

el agua y el verdor,

preparada para nacer como un fruto o una flor,

espero, sin vislumbrarla, la verdad del Amor.

 

 

Traduçción de Emilia de Dios

 

 

  Poente na Praia da Barra, pintura de Silva Rocha

 

NO LITORAL SUBMERSO DO MEU SER

 

 

«La poesía nos viste de resurrección»

Alfredo Pérez Alencart

 

 

No litoral submerso do meu ser

a pena de uma gaivota

amante do verão

escreve os gestos da espuma.

 

O pássaro a que pertence

atravessou o sol,

as fronteiras do dia

para acordar no lilás das sombras

a ressurreição do mundo.

 

 

Do livro a publicar Cadernos do Vento

 

 

  Praia da Barra (Foto de Maria João Fernandes)

António Salvado, Adelaide Neto, Pilar Fernández Labrador, Gonçalo Salvado y Joana Lapa (foto de José Amador Martín)

 

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